sábado, 23 de fevereiro de 2013

Admirável Mundo Novo - Final.


(imagem: filme - À Beira do Abismo)


Eu sou apenas um garoto de dezesseis anos e fui deixado em um orfanato aos cinco meses de idade. A mulher que me gerou decidiu que não gostou da cor do meu cabelo e nem do tom excessivamente branco de minha pele. Pelas leis vigente no atual século o seres nascidos por encomenda, como somos chamados podem se assim decidir seu gerador e/ou tutor ser deixado em um orfanato. Ao atingirmos maioridade biológica somos separados de acordo com nossas habilidades e então somos levados a frente de campos de batalha em guerras que não são nossas ou somos levados a colonias de além terra. Resumindo, somos levados para fora como o lixo que deve aguardar na rua o caminhão passar na manhã seguinte.
Eu não conheci a mulher que me gerou, e como bem pode ser lido me nego a chama-la por mãe. O que sei a seu respeito é que sou fruto de uma escolha mau feita e está escolha não passou de um tom de cor em um caixinha qualquer escolhida em alguns minutos dentro uma loja de departamentos. Meu pai é anônimo, me disseram que provavelmente é um garoto qualquer de vinte e poucos anos que ao sonhar com riqueza e conforto decidiu vender seu esperma a preço de combustível nuclear. Acrescentaram ainda que a julgar pelo meu tipo, minha aparente inteligência, forma fisíca e saúde ele deveria ser um cara inteligente. Enfim, sou um produto feito em escala industrial que acabou saindo com defeito e foi trocado. Substituído, assim fica melhor.
Eu tenho lido muito nos últimos anos para tentar entender ou assimilar como foi que a  humanidade chegou até aqui. Como os seres humanos se tornaram  tão frios e calculistas em escala global. O que descobri é que faço parte de uma redoma na qual não sou o único como havia pensando. A história mostra que desde os primórdios a civilização humana vem marginalizando uns e ascendendo outros. O que mudou agora, trés milênios depois é que o ser humano controla toda a cadeia de produção dos seres marginalizados. Não é como os negros que nasciam por toda a parte e foram domesticados feito bicho, ou como talvez os traficantes marginalizados e esquecidos de outrora. Ou até como as minorias que se tornaram minorias pelo seu livre pensar, por suas ideias libertadoras e revolucionárias. Hoje, no futuro presente, posso dizer que não sou fruto de um processo natural de criação. Eu não vim parar neste mundo porque assim desejou a natureza ou dois seres humanos, não. Sou fruto de combinações perfeitas e testes laboratoriais. Sou produto de uma industria. Fui posto em uma prateleira e me deram um preço. Fui comprado! rejeitado! E agora condenado a viver para outros, travar suas guerras; limpar sua sujeira e segurar nos meus ombros a estrutura pesada e devastadora que eles chamam de sistema. O bicho homem caminhou por trés milênios para terminar pior do que começou. Hoje a humanidade não é humana, tão pouco posso chama-la de bichos. Seria uma afronta. E é por isso que hoje cometo o único ato de rebeldia e liberdade ao qual posso me permitir.
 Hoje eu morro!


2 comentários:

  1. Futurístico, melancólico, catastrófico.
    Bem crítico também, e fatalista se observarmos pelo viés de que não tem mais jeito.
    O assim-chamado sistema nos mata quando nos mata a possibilidade de alegria e de mudança de tudo o que ele mantém estabelecido (muitas vezes com a nossa ajuda, é claro).

    ResponderExcluir
  2. é um texto de revolta, e uma critica a essa humanidade estranha e sem explicação que vivemos, gostei muito bom.

    ResponderExcluir


Este é um espaço aberto ao debate saudável e a critica construtiva.
Fique à vontade para expor suas opiniões nos comentários ou nos contatar via email. (arlan_souza1.0@hotmail.com)