domingo, 8 de dezembro de 2019

"Feh"

Estávamos na praia em plena segunda feira as oito da manhã, só nós dois. Marcelo de bermuda, camisa e chapéu panamá, seu corpo avermelhado e quente, ainda não acostumado ao tempo de Floripa contrastava com o meu, já marcado pelo sol de mais de quatro anos vivendo na ilha. Aquela foi nossa ultima semana no sul, estávamos de mudança para Ouro Preto, em Minas Gerais. Marcelo fora admitido para a vaga de professor de história do Brasil na federal e eu estava em processo de aprovação para o mestrado.
 A empolgação me consumia, e o medo também! Poderia o mundo dar mais voltas em alguns meses do que já tivera dado em vinte e seis anos? Sim, podia. A terra girou um bilhão vezes desde aquele beijo na noite de ano novo. Que sorte a nossa!

Marcelo sentara na areia com as mãos ao redor das pernas, fui até ele e me sentei  ao seu lado, tomei-lhe o chapéu e pus em minha cabeça, dei-lhe um beijo no rosto, ele sorriu.

- Em que você está pensando professor?
Marcelo olhava em direção ao mar, com o olhar perdido no infinito da linha do horizonte, mas naquele instante ele fez uma pausa suave e me encarou. Logo notei quando duas lagrimas deslizaram por seu rosto.
- Estou dizendo obrigado uma centena de vezes Feh, agradecendo ao universo por tudo o  que vivemos até aqui.