sábado, 17 de junho de 2017

Um domo chamado Avenida Paulista












Sim o perigo mora ao lado, nós sabemos!
É como se ao subirmos as escadas do metrô adentrássemos um novo espaço cósmico, outra dimensão; segura, pulsante. Um mundo de coisas possíveis e que dão certo. Me pergunto sempre onde vivem todas essas pessoas, onde trabalham e moram? Queria que fossemos todos amigos, e somos, de um jeito difícil de explicar, pois o que nos liga é o mesmo sentimento e vontade que nos leva até aquela avenida. É a eferverscência de cultura, de estilos, de línguas, modas e opiniões parecidas e até completamente diferentes, uma torre de babel em formato de avenida. A Berlim brasileira.

Se eu fosse fazer um filme das minhas histórias de amor, seria quase todo rodado lá, entre os cafés e parques, esquinas e o vão livre do Masp (como aquilo se sustenta?)


Me recordo que no incio o vislumbre se dava por suas montanhas de concreto e pelo pedacinho de mata atlântica, preservado bem no seu coração. No natal eram as luzes e por fim veio a admiração  pelo instrumento de força, luta e resistência. Eu estava lá em julho de 2013 quando o sacode politico começou, eu li sobre o cara que foi espancado com uma lâmpada por ser gay, logo ali,  na nossa avenida, e quando digo nossa, quero dizer nossa, de toda gente, inclusive sua. A avenida paulista, palco principal dos recentes protestos que se tornaram rotina no Brasil, inclusive do impeachment. Abriga todos os anos a parada do orgulho gay, e que também celebra a chegada do ano novo e  já sediou  a marcha para Jesus.

Da aristocracia cafeeira paulista aos protestos diários; vozes gritando, hora quebrando e hora cantando aquilo que julgam ser o melhor para nós, pro Brasil, ou talvez só pra elas mesmas. A avenida é democrática sim, concorde você ou não, pois cede espaço até mesmo à fome, espalhada por entre as calçadas da Augusta e nas esquinas mil.

Entre os officers, os museus e as lojas de departamento há também pobreza e miséria, injustiças! Mas apesar de, eu reafirmo minha devoção àquele lugar, repito sobre  a conturbada mistura de sentimentos que me envolem sempre que caminho por ali. É contraditório esse meu porto seguro, palco vivo do nosso pais.

Queria eu que a avenida se expandisse com suas calçadas largas  para além da linha reta, descesse a consolação e fosse até o vale do Anhangabaú, varrendo as calçadas e pintando cada parede cinza com os grafites do kobra, dos Gêmeos e de de tantos outros artistas que há, populares e anônimos. Que sua riqueza fosse até o Grajaú levando também os seus teatros, seu verde e sua riqueza econômica. Queria eu que o domo chamado avenida Paulista crescesse tanto até chegar em Heliópolis levando junto o sentimento de segurança e quem sabe até a própria segurança. Que levasse também para todos os lados a vontade de gritar os erros desse pais, de protestar, reivindicar. Junto a tudo isso, a força e a garra da gente que trabalha nas montanhas de concreto, nos trilhos do metrô e varrendo as calçadas.

E finalmente, eu desejaria um domingo longo, ensolarado e cheio de gente com óculos de sol e sorrisos fartos, caminhado e andando de bicicleta ou patins. As diversas tribos coexistindo, vivendo lado a lado; domingo bonito e real, acontece sempre, das 10h às 18h, aos domingos, claro.


Av. Paulista - 02/2017











domingo, 15 de janeiro de 2017

Daquilo que nós nunca fizemos



Daquela foda gostosa que nós nunca demos. Do acordar perdido na tua cama. Do ir te buscar no trabalho sexta a tarde para irmos caminhar, conversando sobre a porra da politica e as eleições que se aproximam, rir das barbeiragens que Simba, nosso cachorro, fez outra vez na calçada da dona Teresa. Ah meu moreno, e as macarronadas que eu nunca  te fiz, das vezes em que (nunca)  te puxei a toalha envolta na cintura pra te ver corar e depois cair na risada me chamando de safado.

Me lembro ainda em detalhes de todas aquelas amostras de Gaudí, Michelangelo e Picasso que jamais fomos ver em São Paulo. Das corridas matinais no vila lobos e no parque Tanguá. Mas o que mais lembro com saudade profunda, é daquela vez em que entrelacei minha mão na tua antes de entrarmos na festa de casamento da tua prima Julia, você me sorriu leve, apertando e aninhando teus dedos nos meus, me encorajando, como quem dizia " continue, vá em frente, aqui ninguém irá nos julgar, o que sentimos um pelo outro é tão bonito que só trará luz ao mundo" lembro desse momento com a certeza concreta e irrefutável de algo que nunca aconteceu.

E finalmente, porém não menos feliz, me recordei a pouco daquela manhã inexistente de domingo, a primeira na cidade nova, da vida nova e dentro das escolhas que fiz. Te liguei desesperado e chorando, supondo que tudo daria errado; o emprego novo, o apartamento, nos dois, o mundo. Você foi enfático: " deixa de drama porra!" Se der errado tú volta, levanta e tenta outra vez, é assim pra todo mundo. E completou " você tem a chave aqui de casa, se precisar volta, sabes o caminho, mas se acaso esquecer, eu vou te buscar."

"É!" pensei comigo. Se precisar voltar eu volto, para fazermos tudo aquilo que nós nunca fizemos, sem dramas PORRA!