domingo, 8 de dezembro de 2019

"Feh"

Estávamos na praia em plena segunda feira as oito da manhã, só nós dois. Marcelo de bermuda, camisa e chapéu panamá, seu corpo avermelhado e quente, ainda não acostumado ao tempo de Floripa contrastava com o meu, já marcado pelo sol de mais de quatro anos vivendo na ilha. Aquela foi nossa ultima semana no sul, estávamos de mudança para Ouro Preto, em Minas Gerais. Marcelo fora admitido para a vaga de professor de história do Brasil na federal e eu estava em processo de aprovação para o mestrado.
 A empolgação me consumia, e o medo também! Poderia o mundo dar mais voltas em alguns meses do que já tivera dado em vinte e seis anos? Sim, podia. A terra girou um bilhão vezes desde aquele beijo na noite de ano novo. Que sorte a nossa!

Marcelo sentara na areia com as mãos ao redor das pernas, fui até ele e me sentei  ao seu lado, tomei-lhe o chapéu e pus em minha cabeça, dei-lhe um beijo no rosto, ele sorriu.

- Em que você está pensando professor?
Marcelo olhava em direção ao mar, com o olhar perdido no infinito da linha do horizonte, mas naquele instante ele fez uma pausa suave e me encarou. Logo notei quando duas lagrimas deslizaram por seu rosto.
- Estou dizendo obrigado uma centena de vezes Feh, agradecendo ao universo por tudo o  que vivemos até aqui.


domingo, 22 de abril de 2018

Deixa-me lhe dizer como me sinto a seu respeito


Veja, é importante que nos comportemos  como jovens quando jovens. Você me fez menino quando na verdade já sou um homem.

Amamos a ideia que temos de alguém.

Nas orações que fiz você falava de Platão, era versado em arte e adorava  história e política.
Nos sonhos que tive tú era moreno, polido e adorava um debate.
Nos diálogos (monólogos) que concebi você sempre me desarmava, derrubava meus argumentos e ria da minha minha estúpida inteligência. Tú me chamava até de arrogante mas o fazia com sorriso no rosto e me beijando a testa.

Sabe, eu nunca gostei de joguinhos, porque neles alguém sempre perde, mesmo que seja para aprender. Mas é  que aprender a lidar com sentimentos enquanto  somos estraçalhados é  um tanto doido e complicado.

Tenho falado de me preparar para os 30 mesmo não estando pronto para os 26.

Eu tenho uma teoria do amor próprio:
Preciso estar bem para ser ainda melhor com os outros, não por necessidade, mas por prazer, bem estar. Este é o amor sádio.
Engraçado, deixar que doa é para mim algo novo, deixar chorar, deixar ir... são conquistas novas. Houve um tempo em que amar para mim era sofrer, era nunca deixar ir, porque se eu deixasse, se disse se - ok - era como dizer - não te amei tanto por isso não insisti - hoje eu sou adepto do: gosto tanto de você garoto, assim como gosto de mim também, por isso eu respeito às tuas escolhas, porque havia uma vida antes de mim e haverão outras depois, se o que te faz bem está adiante de nós ou mesmo na tua vida pregressa, pois bem, você é livre, e não sou eu quem te faz livre, você é desde sempre, assim como eu também sou. E por isso que me permito lamentar, chorar, e deixar doer, me permito ainda lhe dizer que gosto tanto de você, que tú me bagunça e me infla de esperança e possibilidades. Me faz conjugar tudo com o nós. Mas menino, eu me permito e me dou ao direito de amar mais a mim, acima de tudo e de todos. Eis a lei primeira do mundo, de Deus e até dos aviões em queda livre: colocar a máscara de oxigênio primeiro em si mesmo.

Eu já lhe disse que vc tem os olhos castanhos claros mais lindos do universo? Não? Estou  dizendo agora! Falei das tuas curvas? Eu adoraria deslizar minhas mãos suavemente (e com força as vezes) sobre cada cantinho delas.
Contei que sonhei com o teu beijo? Era gelado. O meu é quente, imagina só a explosão que seria? Pois é, não foi. Tudo bem, você me trouxe de volta a mim mesmo. Andei procurando o que nunca perdi e quase me perdi nessa tour enviesada. Mas eu voltei, pra mim.



sábado, 17 de junho de 2017

Um domo chamado Avenida Paulista












Sim o perigo mora ao lado, nós sabemos!
É como se ao subirmos as escadas do metrô adentrássemos um novo espaço cósmico, outra dimensão; segura, pulsante. Um mundo de coisas possíveis e que dão certo. Me pergunto sempre onde vivem todas essas pessoas, onde trabalham e moram? Queria que fossemos todos amigos, e somos, de um jeito difícil de explicar, pois o que nos liga é o mesmo sentimento e vontade que nos leva até aquela avenida. É a eferverscência de cultura, de estilos, de línguas, modas e opiniões parecidas e até completamente diferentes, uma torre de babel em formato de avenida. A Berlim brasileira.

Se eu fosse fazer um filme das minhas histórias de amor, seria quase todo rodado lá, entre os cafés e parques, esquinas e o vão livre do Masp (como aquilo se sustenta?)


Me recordo que no incio o vislumbre se dava por suas montanhas de concreto e pelo pedacinho de mata atlântica, preservado bem no seu coração. No natal eram as luzes e por fim veio a admiração  pelo instrumento de força, luta e resistência. Eu estava lá em julho de 2013 quando o sacode politico começou, eu li sobre o cara que foi espancado com uma lâmpada por ser gay, logo ali,  na nossa avenida, e quando digo nossa, quero dizer nossa, de toda gente, inclusive sua. A avenida paulista, palco principal dos recentes protestos que se tornaram rotina no Brasil, inclusive do impeachment. Abriga todos os anos a parada do orgulho gay, e que também celebra a chegada do ano novo e  já sediou  a marcha para Jesus.

Da aristocracia cafeeira paulista aos protestos diários; vozes gritando, hora quebrando e hora cantando aquilo que julgam ser o melhor para nós, pro Brasil, ou talvez só pra elas mesmas. A avenida é democrática sim, concorde você ou não, pois cede espaço até mesmo à fome, espalhada por entre as calçadas da Augusta e nas esquinas mil.

Entre os officers, os museus e as lojas de departamento há também pobreza e miséria, injustiças! Mas apesar de, eu reafirmo minha devoção àquele lugar, repito sobre  a conturbada mistura de sentimentos que me envolem sempre que caminho por ali. É contraditório esse meu porto seguro, palco vivo do nosso pais.

Queria eu que a avenida se expandisse com suas calçadas largas  para além da linha reta, descesse a consolação e fosse até o vale do Anhangabaú, varrendo as calçadas e pintando cada parede cinza com os grafites do kobra, dos Gêmeos e de de tantos outros artistas que há, populares e anônimos. Que sua riqueza fosse até o Grajaú levando também os seus teatros, seu verde e sua riqueza econômica. Queria eu que o domo chamado avenida Paulista crescesse tanto até chegar em Heliópolis levando junto o sentimento de segurança e quem sabe até a própria segurança. Que levasse também para todos os lados a vontade de gritar os erros desse pais, de protestar, reivindicar. Junto a tudo isso, a força e a garra da gente que trabalha nas montanhas de concreto, nos trilhos do metrô e varrendo as calçadas.

E finalmente, eu desejaria um domingo longo, ensolarado e cheio de gente com óculos de sol e sorrisos fartos, caminhado e andando de bicicleta ou patins. As diversas tribos coexistindo, vivendo lado a lado; domingo bonito e real, acontece sempre, das 10h às 18h, aos domingos, claro.


Av. Paulista - 02/2017











domingo, 15 de janeiro de 2017

Daquilo que nós nunca fizemos



Daquela foda gostosa que nós nunca demos. Do acordar perdido na tua cama. Do ir te buscar no trabalho sexta a tarde para irmos caminhar, conversando sobre a porra da politica e as eleições que se aproximam, rir das barbeiragens que Simba, nosso cachorro, fez outra vez na calçada da dona Teresa. Ah meu moreno, e as macarronadas que eu nunca  te fiz, das vezes em que (nunca)  te puxei a toalha envolta na cintura pra te ver corar e depois cair na risada me chamando de safado.

Me lembro ainda em detalhes de todas aquelas amostras de Gaudí, Michelangelo e Picasso que jamais fomos ver em São Paulo. Das corridas matinais no vila lobos e no parque Tanguá. Mas o que mais lembro com saudade profunda, é daquela vez em que entrelacei minha mão na tua antes de entrarmos na festa de casamento da tua prima Julia, você me sorriu leve, apertando e aninhando teus dedos nos meus, me encorajando, como quem dizia " continue, vá em frente, aqui ninguém irá nos julgar, o que sentimos um pelo outro é tão bonito que só trará luz ao mundo" lembro desse momento com a certeza concreta e irrefutável de algo que nunca aconteceu.

E finalmente, porém não menos feliz, me recordei a pouco daquela manhã inexistente de domingo, a primeira na cidade nova, da vida nova e dentro das escolhas que fiz. Te liguei desesperado e chorando, supondo que tudo daria errado; o emprego novo, o apartamento, nos dois, o mundo. Você foi enfático: " deixa de drama porra!" Se der errado tú volta, levanta e tenta outra vez, é assim pra todo mundo. E completou " você tem a chave aqui de casa, se precisar volta, sabes o caminho, mas se acaso esquecer, eu vou te buscar."

"É!" pensei comigo. Se precisar voltar eu volto, para fazermos tudo aquilo que nós nunca fizemos, sem dramas PORRA!






sábado, 31 de dezembro de 2016

Obrigado.

Dois mil e dezesseis me sorriu fartamente, foi gentil e me permitiu realizar sonhos e cumprir quase todas as metas que me dei em seu primeiro mês. Muito embora eu tenha de lamentar muitíssimo pois o mesmo não se repetiu com o meu Brasil e o mundo a fora. Pra muita gente este ano que ta acabando não foi nada bom, seja pela política épica que superou qualquer série de TV, seja pela economia cambaleante e os milhares de empregos perdidos. Seja ainda pela miséria humana que em pleno século 21 fez com que milhares de pessoas na África e no Oriente médio tivessem de deixar suas casas e se arriscar pelos mares, desertos e matas em busca de um lugar seguro para viver e ter o que comer. Tudo isso aconteceu como se o mundo em sua grandeza e biodiversidade não fosse o suficiente para todos nós, para todas as nossas diferenças; religiosas, sexuais, políticas, raciais.
Este ano eu olhei pro céu muitas vezes me perguntando o que estava Deus pensando sobre as coisas que nós estávamos  fazendo do mundo que ele nos deu.

Caminhamos, caminhos muito. Chegamos ao espaço, criamos máquinas fantásticas, conectamos continentes, achamos a cura para diversas doenças, mas não aprendemos, ainda não aprendemos que de nada vale tudo isso se o essencial, o minimo ainda negligenciamos: O respeito as diferenças, o amor ao próximo.

Este ano eu consegui minha bolsa na faculdade, visitei minha avó em Alagoas, cortei açúcar e sal como nunca antes, beijei e amei muito, me coloquei no lugar do outro sobretudo agora no fim, ainda que de uma forma não premeditada.

Eu sou grato a este ano, a vida me sorriu e eu sorri de volta. Na lista pendurada na parede do meu quarto, quase todos os itens estão ticados, faltou conhecer a neve, no Chile e concluir a leitura de três livros, coisa boba, 2017 está ai para cumpri-las todas e adicionar mais algumas que já estou matutando.


Eu agradeço imensamente pelo prazer que foi desfrutar do amor de minha família quando os visitei em Alagoas; tios e tias, primos. Fui arrebatado por algo que não esperava, sentimentos bons.
Agradeço pelo orgulho que senti ao receber a noticia de minha bolsa integral na faculdade.
Agradeço os beijos e abraços que recebi, o emprego que consegui manter e a família que tenho.

Para o novo ano eu me proponho a ajudar mais, fazer mais voluntariados, cuidar mais da saúde, da mente e da alma. Me proponho a ser simples e viver o que é essencial.

Em 2017 torço para que as armas caiam, as crianças comam e possam ir à escola e que as pessoas de todas as partes do mundo somente deixem suas casas se assim o quiserem fazer.


Obrigado.






domingo, 7 de agosto de 2016

No café da esquina, sábado anoite!


Ali na esquina da avenida agitada há um café com uma arvore sobrevivente fincada na calçada de concreto. Foi lá que nos encontramos pra falar de nós, dos nossos amigos e dos sonhos da gente.
Temos vinte e poucos anos e somos velhos estudantes de economia, grandes guerreiros de guerras diárias, travadas pelos longos percursos de ônibus lentos, trens lotados e horários apertados.
Falávamos das desigualdades e da nossa sorte revestida de persistência. Nos disseram não, mas teimamos em gritar todos os dias.. Não é o caral#$@ PORRA!

Agradecemos sempre que nos vemos. Somos um tanto carentes de modéstia, mas amamos a forma como vemos o mundo embora eu deva confessar que levamos bons tapas na cara este ano. Vimos nossos pré-conceitos caírem por terra e os estereótipos despencarem do alto de um penhasco. O queixo caiu, logo o nosso, que gritamos liberdade, direitos e respeito. Pois é, erramos e aprendemos com isso. Espero que continue assim.

No ponto alto da prosa conversávamos sobre respeito e do espaço de cada um. Nos últimos dois anos fomos apresentados a gente tão diferente e outas estupidamente tão iguais. Lembramos do quão críticos fomos com algumas delas, estabelecendo ideias curtas e perfis ralos, baseados em mero preconceito.

Lembramos também do quão sortudo fomos pois essas mesmas pessoas permaneceram, ficaram por perto, algumas se tornaram amigos e tenho certeza, foi a vida, o destino, Deus! Rindo de nós, mostrando o tanto que ainda temos de aprender sobre os outros, esse complexo humano, que antes de qualquer definição merece respeito.

Fechando a noite um garoto indagou sobre o quão bom devia ser nossas vidas e me fez pensar por um segundo até que concordei. - É, nossas vidas são incríveis! Nós as fazemos assim todos os dias, entre o metrô e as aulas de micro, o estágio e a volta pra casa a gente se fala, sorri, chora, estuda e dorme até que chega.
Essa guerra santa diária é combustível e vivemos isso bem cientes do quão mágico é este momento, sabemos hoje o quão vamos sentir saudade dele em um futuro não muito distante.

Eu só posso desejar que sejamos desconstruídos e reconstruídos diariamente, que os tipos mais diversos de gente nos encontre e nos ensine sobre este mundão de meu Deus.
Eu posso dizer da sorte e da alegria em compartilhar este café, esta noite e parte desta vida.

Atravessamos uma São Paulo inteira pra nos tornarmos quem queremos ser e atravessaremos o mundo se preciso for.

domingo, 1 de maio de 2016

Não, eu não sinto muito!

Me perdoe mas eu preciso ir. Tenho que partir! Permanecer é estático demais; meu corpo e alma não suportam isso, e eu não lamento, sinceramente eu não sinto muito. Na verdade nem um pouco. Pelo contrário, me alegra essa inquietação pois ela é prova concreta de que estou vivo, pois é dessa agonia, de quando esse vazio, quase desespero em estar parado. É dessa loucura silenciosa que nascem e florescem meus desejos, meu pulsar e querer, porque estando aqui eu não posso ver o que está adiante e isso me carrega, me arranca da cama e me poe frente ás possibilidades... aos cafés, conversas, musicas, beijos, vidas, descobrimentos, conhecimentos, e jeitos totalmente novos de ver o mundo ao meu redor.

Repito: eu sou apaixonado por ver e ouvir os modos do outro, o seu olhar sobre o mundo, os teus achamentos.

Viver é lindo, é delicioso e eu escrevo isso chorando, arrepiado, e isso meu amor, isso é vida, é viver.

Eu estava meditando e me levantei para escrever, pra falar com os amigos, ouvir algo que me fizesse sorrir. E foi na busca narcisista de mim que encontrei o outro. Hoje eu queria ouvir, mas fui eu quem acabei falando e pude assim levar luz e felicidade pra uma amiga necessitada.
Tem quem diga que magia não existe, eu discordo. Para cada força neste universo há uma equivalente contrária.

Só existe luz onde antes havia escuridão, mas a escuridão jamais habita onde há luz.
Já ouvi várias vezes que Deus se manifesta de diferentes formas, e este Deus você pode chamar de Jesus, ou de Alá, de Maomé, Abraão, Buda, Oxalá, Ganesha, ou de átomos, prótons, elétrons, nêutrons e de tantos outros que meu limitado conhecimento não tem saber. Eu o chamo de força criadora do mundo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Feche os olhos e diga tudo!



No escuro a poesia flui... então eu fecho os olhos
Eu segurava uma faca, precisava SENTIR porque sentindo eu podia SER.
De joelhos, risquei meu braço esquerdo e fiz um corte medroso e tímido. O sangue escorreu singelo e livre.
Eu precisava de mais, o corte no antebraço foi profundo, arrastei a faca quase até o pulso e parei, parcialmente satisfeito. Meu sangue era um criminoso do gueto, corria louco, descarado e livre.

Hoje pela manhã, indo para o trabalho meu inconsciente resmungou da minha falta de expressão. Adquiri nas ultimas semanas uma postura quieta, resguardada. Chego as seis do trabalho, tomo um banho, janto e vou dormir antes das dez. Fora do comum pro cara que dorme depois das duas da manhã mesmo em dias de aula. Inverso demais pra quem estava correndo quarenta minutos anoite pelo bairro. Os livros se encheram de poeira, os filmes aguardam petrificados na estante e eu sucumbi quando mais precisei gritar. Então hoje, quando sai do metrô e a brisa da manhã de quinta feira em frente a estação pinheiros me estapeou, eu sorri. Bobo, sozinho, no meio da rua.
Me lembrei da Sociedade dos Poetas Mortos, exatamente da cena em que o aluno diz ao professor que não fez o dever de casa, que naquela ocasião era escrever uma poesia. O menino justificou não saber escrever poesias, não conseguiu. O professor, mestre Robin Willians o chamou a frente da classe e lhe tapou os olhos. - Imagine que você está sozinho nesta sala, só você e tudo que o está sentindo: seus medos, felicidades, anseios, diga tudo, vamos. Diga! Grite! Ponha pra fora as suas dores, os seus demônios. O garoto fez poesia. De olhos fechados ele enxergava melhor.

Meu inconsciente  resgatou esta cena para me convidar a também fechar os olhos e fazer poesia com as minhas preocupações, porque não sei cantar e não atuo, mas escrever eu aprendi, um pouco.
As preocupações, mesmo que mundanas, sim, mundanas, porque eu tenho onde dormir, o que comer, e não estou no corredor de um hospital. Minha família está bem e o sol tem brilhado todos os dias. As minhas preocupações mundanas, assim como as suas, as vezes nos quer vencer, se apoiam feito um bixo preguiça pesado e corpulento, bonitinho mas com unhas afiadas e grandes. Fica bem acima de nossos ombros dando a nós uma postura curvada, não de humildade, mas de cansaço, fartos e tolos.
Este ano começou estranho, ainda escrevo 2015 nos formulários e não me recordo exatamente em que momento trocamos o 5 pelo 6, acho que fiquei lá, ou fui trazido até aqui adormecido.
Não quero dizer com isso que o tempo é louco, passou rápido e coisa e tal, não. É que meu relógio biológico tá assim, desalinhado. - Espera, preciso amarrar meu cadarço, diz ae pro motorista esperar, não posso perder a aula, é estatística e tenho dificuldades. É tipo isso, tipo assim que estou.
Eu também tenho sentido medo, andado confuso com algumas decisões que tomei, mas poxa, eu tomei decisões e isso é grande coisa. Tenho me dito isso todos os dias. EU ESCOLHI ESTAR ONDE ESTOU! Não me arrependo, mas estou confuso e isso é doido porque essa confusão que me incomoda, angustia e enlouquece também me impulsiona, me faz pensar e repensar uma porrada de coisas fundamentais em minha vida. Sinto cheiro de maturidade, e como sempre ela vem sem pedir licença, sem poupar nada, bruta, mal criada, imponente e necessária.

Eu queria saber cantar tão alto, belo e em notas agudas, estrondosas, como um coral de igreja protestante em um domingo pela manhã com suas canções capazes de converter qualquer pagão, tamanha força e poder que elas irradiam. Por hora, eu apenas escrevo.




quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Cair e levantar, beijos acima da média, amigos, textos, sexo em inglês e tapas na cara = 2015 :)



Eu deveria escrever aqui em letras garrafais um grande obrigado por um ponto final e pronto.
Isso seria ao meu ver mais que suficiente,  ser grato e simples, direto e reto.
Mas vamos lá, eu escrevi tão pouco este ano que seria falta de educação deixar 2015 ir sem dizer algumas palavras.
Este ano eu conheci uma porção de gente nova, fiz novos amigos, mais que cinco, me despedi deles também, disse adeus, atravessei um oceano, conheci a terra da rainha, falei português de Portugal em Portugal. Fui a um pub e bebi a mesa com gente do mundo todo. Almocei pizza em Londres sentado a mesa com Turcos, franceses, e claro,  italianos.
Este ano troquei de emprego, de casa, voltei pra casa. Beije mais que a média somada de todos os anos que vivi (hahaha). Defendi meus pontos de vista e me ferrei por  isso, mas no fim das contas me dei melhor por faze-lo. Confiei em pessoas que  não devia ter confiado, fui imprudente e neguei minha responsabilidade, tudo isso pra entender agora que sim, sou responsável por tudo que faço e deixo que façam comigo, inclusive por ter chegado onde cheguei e vivido o que vivi. Aprendi a deixar ir e entendi que sim, há males que virão para o bem e só perceberemos isso quase sempre depois, mas tudo bem, o importante é percebamos isso . Essa parte pode ser posta aqui da seguinte forma: A vezes se você não se mexe, vem a vida e te chacoalha por inteiro e te dá dois tapas e graças a Deus que ela faz isso, amém!
Este ano eu ganhei um afilhado, fui padrinho de casamento e fiz 24. Estou feliz pelos dois primeiros e preocupado com o ultimo.
Este ano eu dei um puta beijo em uma esquina de baixo de uma noite estrelada, e mesmo que pareça desnecessário e talvez seja, escrevo isso aqui para não esquecer, porque foi bom e foi gostoso pra caralho. Ah, eu também transei em inglês, só  pra constar. ;) (kkkkkk)
Ai meus Deus, já ia me esquecendo, este ano eu também publiquei meu primeiro texto em revista e aprendi a preparar salmão com molho de maracujá e me senti  foda por isso.


Ahh, e  fui parado pela blits da federal  voltando de Foz, andei de barco, conheci Itaipu e as cataratas. Pisei rapidamente no Uruguai e voltei correndo. Me perdi a meia noite em Paris, perdi também meu avô paterno, ou melhor, não se pode perder o que não se tinha, então dizer que ele faleceu fica mais bem posto. (descanse em paz vô).

Pra 2016? Eu quero ir até onde nunca fui, falar com pessoas que ainda não conheço e ouvir seus achamentos sobre o mundo. Aprender, aprender mais e mais. Saúde e amor, muuuuito amor!



:)






domingo, 20 de dezembro de 2015

Para o mundo, com amor. / To the world, with love.

Brighton Railway, julho de 2015.

Estou na Inglaterra há quase um mês e está é a primeira vez que escrevo sobre a viagem. Em minha ultima semana, decidi passar a tarde de hoje em Londres e agora estou voltando para casa, em Brighton. Sei que soa estranho escrever "estou voltando para casa" mas é exatamente este o sentimento que tenho por essa pequena cidade da costa sul da Inglaterra. Aqui é  talvez o lugar perfeito, porque é interiorano mas também cosmopolita; o mundo inteiro vem pra cá estudar inglês. As ruas, lojas, restaurantes, todos estão sempre cheios de turcos, italianos, franceses, colombianos e coreanos. É uma loucura gostosa. E ainda temos a praia e o oceano azul claro e reluzente. Há também parques e bicicletas, muitas bicicletas, aqui é a terra delas.

Brighton é calma, convidativa e também pode ser barulhenta se você quiser que ela seja, basta ir no lugar certo.
Para não ser perfeito  farei uma critica: a comida! Confesso que vou odiar batatas por um longo tempo. Mil saudades do feijão com arroz da minha mãe. 
Até aqui minhas observações foram clichês; comida, saudade, lugares bonitos. Mas o que realmente me surpreendeu e vai me dilacerar em breve, quando eu voltar para minha casa de verdade, serão os amigos para os quais terei de dizer até logo, porque me recuso a dizer adeus, embora saiba que possa ser um até nunca mais. Este será o grande choque para mim. As culturas diferentes, costumes, comida, idioma. Nada disso supera a angustia de saber já de antemão que provavelmente nunca mais verei as pessoas com as quais convivi no ultimo mês. Sem ser dramático, mas sendo, isso é como uma morte anunciada.  Eu sei, os tempos são outros, as distâncias foram reduzidas ao computador do quarto e ao celular no bolso da calça, vai dar pra continuar se falando e possivelmente marcar um encontro daqui ha algum tempo, inclusive isso é uma promessa e quero honra-la.
Muitos dirão que estou sendo sensível demais, afinal foi apenas um mês. Talvez isso possa ser verdade, mas prefiro acreditar que não. Prefiro crer na beleza dos encontros, pensar que um dia eu estava no meu bairro, com amigos de longa data, primos que conheço desde o meu nascimento, e ainda ontem almocei com pessoas de diferentes lugares do planeta, cada uma com sua percepção do mundo, educadas de formas diferentes e que por alguma semelhança ou sei lá o que decidiram compartilhar um bocado do seu tempo comigo, com os outros. E com os passar dos dias os almoços se tornaram caminhadas, idas a praia, conversas e debates sobre os mais variados temas, mais almoços, festas, piqueniques, despedidas, mais almoços, passeios, bares e mais almoços. Isso é tão instigante, sou apaixonado por saber como o outro  o mundo, como os outros são influenciados e se comportam perante as mesmas coisas que eu exergo, e ainda mais, que coisas há do outro lado que eu ainda não vi, vivi, ouvi, senti ou comi? Milhares, milhões, talvez infinitas.
O mundo é uma criação extraordinária e descobri lo é fascinante.
Hoje me sinto agradecido e digo ao mundo com amor: obrigado por ser tão gigante e misturado.
Espero poder senti lo e desbrava lo ao máximo.


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Brighton Railway, July 2015.

I am in England for almost a month and this is the first time I write about the trip. In my last week, I decided to spend the afternoon in London and now I'm coming home in Brighton. I know it sounds strange writing "I'm coming home" but this is exactly the feeling I have for this small town south coast of England. Here it is perhaps the perfect place because it is small-town but cosmopolitan; the whole world come here to study English. The streets, shops, restaurants all are always full of Turkish, Italian, French, Colombian and Korean. It's a delicious madness. And we still have the beach and the clear and sparkling blue ocean. There are also parks and bicycle, many bikes, here is the land of them.
Brighton is calm, inviting and can also be noisy if you want it to be, just go in the right place.
Not to be perfect I will make a criticism: the food! I confess that I'm going to hate potatoes for a long time.
So far my observations were cliches; food, longing, beautiful places. But what really surprised me and will tear me soon when I get back to my real home will be friends for which I will have to say goodbye, because I refuse to say goodbye, although I know it can be an even never . This will be a shock for me. Different cultures, customs, food, language. None of this overcomes the anguish of never knowing already in advance that probably will see more people with whom I lived in the last month. Without being dramatic, but being, it is like a death foretold. I know, times have changed, the distances were reduced to the computer room and the cell phone in his pants pocket, will give to keep on talking and possibly arrange a meeting here for some time, even that is a promise and I want to honor it .
Many will say I'm being too sensitive, after all was only a month. Perhaps this may be true, but I prefer not to believe that. I prefer to believe in the beauty of the meetings, to think that one day I was in my neighborhood, with longtime friends, cousins ​​I know from my birth, and yesterday I had lunch with people from different places on the planet, each with their perception of the world , educated in different ways and for some semblance or whatever they decided to share a bit of your time on me with others. And with the passing of days lunches became walks, trips to the beach, conversations and debates on various topics, most lunches, parties, picnics, farewells, most lunches, trips, bars and most lunches. This is so exciting, I love to hear how others see the world as others are influenced and behave towards the same things I see, and further, that stuff's on the other side I have not seen, lived, heard, I felt or ate? Thousands, millions, perhaps endless.
The world is an extraordinary creation and discovered it is fascinating.
Today I feel grateful and say to the world with love: thank you for being so gigantic and mixed.

I hope can feel it and tames it to the fullest.





* I'm sorry for the bad translation, my English is not perfect and I had to resort largely to google translator.


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Digo que quero sentir o mundo mas quando sou posto ao vento ao invés de bater asas eu choro feito um menino resmungão com medo de cair.
Esse medo, esse vazio, essa maldita definição, quero me livrar disso. Eu sei, caminhar é melhor, porque sentar e pensar é envelhecer sem fazer nada. Pois então que eu caminhe e pense ao mesmo tempo.
Sempre que saio de férias eu volto muito introspectivo, matutando um monte de coisas; trabalho, faculdade, pessoas, o mundo e o universo, coisas sérias, coisas mundanas, e isso se prolonga por algumas semanas pelas quais vou me torturando a ponto de ficar com dor de cabeça e derramar  algumas lágrimas.
Não vou falar agora sobre minha ultima viagem, isso é papo pra outra noite, uma mais estrelada. Hoje quero deixar aqui minha ausência de fé, para então preencher-me de outros sentimentos, a começar  pela própria fé.
E a fé em questão não é apenas divina, porque sim, eu acredito em um Deus, talvez não de uma forma convencional, o Deus dos livros, do céu e inferno e templos e igrejas. O Deus que eu acredito é um cara com o qual converso todas as noites, durante o dia, em voz alta ou em pensamento. Nossa conversa não tem protocolo; começamos a conversar sem cerimônias porque é assim que funciona pra mim e é assim que me sinto bem e à vontade. E o mais importante: é assim que me sinto ouvido.
Mas a fé em questão é a que tenho sobre mim mesmo. A fé que tenho deixado ir ao chão.
Sinto me tal como um  menino que estava brincando e agora ouve sua mãe o chamar para ir a escola. É o seu primeiro dia de aula no primeiro ano letivo e ele está com medo, assustado e cheio de dúvidas. O menino quer ficar em casa, ver tv e brincar na terra do quintal. E por medo ele chora, mas chora sem saber que na escola tem amigos e tem coisas novas que ele vai gostar de aprender. Tem merenda com sabores e cheiros que ele nunca sentiu, e também tem terra pra correr e brincar.
Eu já fui esse menino e me lembro que mesmo com medo decidi ir a escola e lá eu descobri um mundo fantástico e lindo. Mas por algum motivo hoje eu sou este garoto novamente e estou confuso e com medo como da primeira vez. Parece que esqueci tudo que aprendi sobre a força, a coragem e a beleza de aprender coisas novas.
Essa semana eu pensei sobre definições. Sai do meu último emprego em janeiro e devido a uma viagem marcada muito antes eu não pude ir em busca de um novo logo de imediato e isso me fez ficar apenas com a faculdade como ocupação. No primeiro semestre do ano vivi da expectativa da viagem que estava por vir e da rotina de estudos, mas nos intervalos que eram constantes eu me questionava:

Meu nome é Arlan de Souza Rocha e o que eu sou? Um estudante de economia? Um ex supervisor comercial? O filho da minha mãe? Um estereótipo? Um ser humano? Não consigo chegar a nenhuma conclusão muito concreta e por isso desisto. Mas percebo que me limitei a pensar em mim como uma coisa que precisa ser nomeada e definida, como uma palavra no dicionário, ou um artigo de uma loja de departamento que precisa ser cadastrado e catalogado no sistema. Deixei de fora a pessoa, o ser humano. Eu adorava trabalhar em meu último emprego, que foi o primeiro. Mas em certo ponto a magia, o encantamento e o brilho nos meus olhos foram diluídos. Não quero aqui apontar responsáveis, até porque se houvesse algum, este seria eu. Prefiro olhar para tudo isso como um ciclo que chegou ao fim. Queria ser menos dramático e encarar as coisas como mero acaso, pessoas morrem, mudam de emprego e se casam todos os dias. Ao inferno com o meu egoismo.
Mas agora estou aqui, em processo de transição. Fechei a porta e me pus a chorar, estou com medo de abrir a próxima, na verdade, estou apenas caminhando em busca da porta seguinte e é esse caminhar que me causa medo, porque preciso encontrar um novo lugar, um lugar que seja tão prazeroso, gostoso e cheio de coisas novas para aprender como foi o ultimo. E eu não disponho de tempo para vagar por ai, sou bicho apresado, a inércia me incomoda e enraivece. Talvez este menino burro tenha se esquecido que o aprendizado se dá ao longo do caminho e a grande prova é superar e absorver tudo que agrega. Este não é um ciclo novo, é repetição. É uma mesma prova só que para uma oportunidade diferente.
Eu preciso ser, fazer e sentir. Vou pegar todas as definições que fiz de mim, recorta-las, misturar todas e jogar pro alto. E então, quando todos os pedaços voltarem ao chão eu serei quem preciso ser: todos que fui, incompleto e em construção, mas sem métrica, regra ou passo a passo. Depois de pegar os pedações e colar fazendo abstrações eu vou caminhar e pensar e fazer o que preciso e quero.
Eu preciso de ritmo, ritmos novos.

Que eu tenha fé, e a tenha em abundância.