terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Admirável Mundo Novo - parte 1



imagem - google


O dia estava cinza e as ruas começavam a se encher de gente apresada. No centro as lojas começavam a abrir sua portas, pessoas afoitas, descontraídas. Achava-se de tudo naquele grande centro, uma artéria pulsante do novo mundo, uma célula mãe do capitalismo. Avenidas apinhadas de carros que desafiavam a gravidade em velocidade e subestimavam a designer por suas linhas absurdas, prédios em puro vidro e concreto suspenso fazendo curvas bestiais. Nas alturas outdoors em três D davam noticias do ultimo segundo, como a grande inauguração do transporte molecular de seres humanos. Era o futuro. O estopim da humanidade. A estabilidade  tão almejada, enfim alcançada.
 Andando em linha reta pela rua de compras, em frente ao universe investments, uma vitrine gigantesca chamavam a atenção de qualquer transeunte. Milhões de caixinhas do tamanho de um tubo de pasta de dente formavam a face de uma criança, clara, olhos negros e cabelo liso, sedoso e brilhante pendendo pela testa. A criança estava sem expressão, como se estivesse paralisada, não demostrava medo, dor ou satisfação, nada, exatamente nada. Mas seu olhar era curioso e cheio de subjetividades. Olhando bem de perto via-se que cada caixinha trazia em si a foto da criança, as caixinhas somados e empilhadas projetavam a  mesma figura mil vezes maior.
Era manhã e  o sol já projetava suas luzes celestiais nas vidraças da megalópole. Um pequeno conglomerado de jovens mulheres tinha se formado em frente a loja com caixinhas impressionista na vitrine. Elas aguardavam ansiosas pela abertura das portas, pontualmente as 9:15. O que não tardou a acontecer. As nove e quinze paulatinamente todos os relógios badalaram. O maior e mais alto no edifício  building losers, o mais  antigo e centenário na torre central da catedral de nossa senhora mãe dos homens e por fim, o relógio de sol projetou sua sombra sobre os sinalizadores desenhados em bronze no grande circulo no centro da cidade.
As mulheres todas trajando vestidos de cetim de cor mórbida, outras ainda com casacos e boleros de renda, subiram uma ao lado a outra as escadarias e foram recebidas pelas atendentes no saguão da loja. Estas por sua vez, lindas, com as bochechas coradas, os lábios bem torneados e as sobrancelhas milimétricamente desenhadas.
Uma mulher ligeiramente magra  logo se dirigiu a uma das atendentes.
- Olá, bom dia, ruivos. Por favor! - Disse a senhorita com a voz um pouco trêmula demostrando insegurança no pedido feito. A atendente sorriu graciosamente e pediu a senhora que a acompanha-se.
- Vamos lá... ruivos, corredor setenta e dois! - E assim as duas mulheres adentraram a loja.
  O espaço lá dentro era gigantesco, cercado por painéis de vidros que mostravam crianças de todas as cores e etnias; sul africanos, indígenas, sul americanos, coreanos, alpinos, germânicos. Cada painel uma criança, sempre com a face indecifrável e quieta. No salão principal, vários corredores se projetavam prédio acima, o ligar parecia-se muito com antiga biblioteca nacional no Rio de Janeiro.
 - Hum deixe-me ver, vamos precisar de uma plataforma. - A  atendente apressou-se em tirar do bolso uma pequena placa em titanium, na qual deu um toque fazendo a mesma acender, com mais três toques uma plataforma de um ou dois metros quadrado desceu sobre suas cabeças.
- Vamos, corredor setenta e dois fica lé em cima.
As duas mulheres subiram na plataforma que ao comando de voz da atendente desatou a subir.
- Desculpe senhorita, mas eu não me apresentei. - Disse a atendente rompendo o silêncio. - Me chamo Cecilia e preciso cadastra-la em nossa rede.
- Oh, sim claro. Me chamo....
- Não é necessário dizer nada senhorita. - Interrompeu outra vez a atendente. - Apenas estenda sua mão - E assim ela indicou a placa de titanium utilizada para trazer a plataforma. - o computador fará a leitura de sua biometria e terei todas as informações de que preciso.
- Sim, claro. - Sorriu a moça se sentindo uma perfeita arrogante.
A plataforma enfim parou de subir, estacionou em frente a um corredor com estantes de ferro em cor branca. As duas mulheres desembarcaram e a plataforma logo tornou a descer.
- Vamos senhorita Mcfeller, seu DNA  indica que o modelo mais apropriado para você é o ruivo ak 23. Codifica perfeitamente com seu tipo sanguíneo.
 - Falando celestialmente como se desenhasse cada palavra, Cecilia andou a frente da senhorita Mcfeller, e esta por sua vez ainda assustada a seguiu.
A atendente parou após alguns passos entre as estantes, olhou graciosamente para sua cliente, sorriu e disse.
- Aqui está, Finalmente encontramos. Ruivo, ak23. A senhorita vai adora-lo!
- A senhorita Mcfeller sorriu timidamente e pegou a caixa que trazia em suas laterais a imagem de um bebê ruivo. O cabelinho ainda ralo, porem reluzente farfalhava sobre a face impenetrável da criança.


7 comentários:

  1. Gostei da narrativa e do jeito que a conversa se desenvolveu! Muito bom ;)

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  2. gostei da narrativa :D http://bloggdoanonino.blogspot.com.br

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  3. Pois é podemos ver como o ser humano é considerado como uma máquina descartada na sociedade, onde tudo e compra menos a vida de outrem...
    Quanto vale uma vida, isso é imensurável!

    Você sabe o quanto aprecio seus textos, mais uma vez parabéns

    Beijos

    Nathy

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