sábado, 7 de julho de 2012

Mulheres (2)

                                                                         A Mulher / Di Cavalcanti


Edileuza casou-se cedo, uma menina em nossos dias, um mulher naqueles tempos.
Vivia no nordeste, em meio ao marasmo e ao cultivo da terra. Teve dois filhos, dois meninos.
Pouco depois mudou-se para São Paulo percorrendo o que a alguns anos atrás era o caminho da prosperidade.O marido trabalhou firme dia após dia, noite após noite, construíram casa, compraram carros e entre um copo de wisk e outro as crianças iam para o colégio, o marido crescia no empego e Edileuza também progredia. O azulejo do banheiro perdia a cor original, estava agora com aspecto esbranquiçado de tanto ela limpar, o almoço servido pontualmente ao meio dia realçava ainda mais a dedicação da dona de casa, da mulher do lar.
O almoço de domingo sempre evidenciava uma ausência comum, o lugar do chefe estava vago. Na mesa de madeira macissa apenas trés cadeiras estavam ocupadas, em algum lugar no outro lado da cidade o marido ocupava também um lugar, talvez no trabalho talvez na mesa do bar. E desse modo passaram-se cinco, dez, quinze, vinte anos e Edileuza permaneceu naquela quase devoção, em uma escolha forçada talvez, mas cheia de dedicação. Criou os dois filhos, zelou pelo marido, aprontou a mesa, limpou a casa e lavou o quintal. Só esquecera de seus sonhos e de suas vontades. Deixou de nutrir os seus desejos que dia após dia ela guardava cada vez mais no fundo das  gavetas dos armários, até desistir de vez e joga-los na lixeira da cozinha junto com cascas de batata e cenoura.
 Edileuza foi forte e foi livre ao escolher por onde caminhar, foi brilhante por ter dedicado sua vida em prol de outras, ela tem e teve seus motivos.
 Lembro-me certa vez quando Edileuza  me contou que sempre quis ir a faculdade. Queria cursar administração de empresas e  o fez sem perceber. Alcançou por mérito próprio o cargo mais alto. Ela  foi administradora de sua casa, foi líder de seus filhos, foi mãe com direito a estágio e efetivação. Vinte e cinco anos dedicados a mesma empresa, entre ganhos  e perdas, valeu á pena? Aos que estão de fora não vão entender, mas a vida de uma mulher, de uma mãe e de uma esposa não são calculadas entre valer ou não  à pena, há muito mais em jogo.

Um comentário:

  1. Pode ter certeza que esse "chefe" um dia vai se arrepender amargamente por não ter acompanhado as várias fases do crescimento dos filhos...mas não se sinta magoado, entristecido ou muito menos furioso, pois um diamais cedo ou mais tarde o arrependimeto bate a porta e é ai que voce entra não com o desprezo mais sim com toda a sabedoria e ensinamento de sua mãe...
    pense nisso.

    Beijos Camaleão.

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