sábado, 21 de janeiro de 2012

Densidade Terrestre



Ela estava de pé encostada na pia da cozinha, de pernas cruzadas com uma caneca de porcelana branca nas mãos. Tomava café e observava pensativa o mundo lá fora. A  janela era grande e a cortina estava obviamente aberta, pesava sobre a moça algo que ela não conseguia nomear, divagava a respeito e olhava além da janela na esperança de encontrar respostas.
Mas havia simplicidade em algo tão pesado e  complexo. Após tomar outro gole de café os olhos dela brilharam por uma fração de segundo e como quem acabara de receber uma mensagem psicografada ela falou.
- Densidade terrestre - disse baixinho, nomeando o que sentia.
Densidade  terrestre, ela pensou alto em seu intimo, era isso. A pressão exercida pelo planeta sobre ela.
A moça foi moldando o pensamento e deixando-o mais claro, mais legível para ela mesma.
Densidade terrestre, a parcela de influência que o planeta exercia sobre suas decisões, sobre sua vida e seus passos na terra.
Densidade terrestre, a certeza de que certas coisas não são possíveis. Essa coisa concreta que está bem diante de cada ser-humano afirmando a todo instante que as coisas são como são e não como poderiam ser ou como queríamos que  fossem.
A densidade terrestre,  pensou a moça, de tão pesada chegava a ser uma imposição. Está e sempre esteve entre nós. Contínua, mutua, sempre presente para afirmar que é maior e mais forte!
A moça ficou petrificada por alguns instantes, se assustou com a ideia de uma entidade tão forte conduzindo em parte sua vida, sentiu-se escrava da-li em diante de de algo que ela não podia controlar, não via, não ouvia, mas sentia sua presença como quem sente fome as três da tarde de um dia sem almoço.
Ainda em transe ela deixou a caneca de porcelana branca cair espatifando-se no chão e acordando todos os que dormiam no andar de cima, sua família!
Foi inevitável, a moça pensou instataneamente em seus pais e em seus irmãos, em como também estavam sujeitos a densidade terrestre. E assim ela seguiu multiplicando seu pensamento até chegar no planeta inteiro e se assustar ainda mais ao pensar que o plante inteiro estava fadado a tal força.
Após apanhar os cacos de porcelana a moça  pensou por fim, agarrada ao cabo da vassoura. Podiam todos os seres humanos não se submeter? Podiam de alguma formar transpor a densidade terrestre?
A moça concluiu que sim! E ainda segundo ela, tal empenho é uma empreitada de longo prazo e que requer dedicação e cautela.  Nesse instante que ela largou a vassoura e tornou a espalhar todos os cacos de porcelana pelo chão da cozinha. Decidira começar por ali a não mais se submeter a densidade terrestre, foi aquele o primeiro ato contra tudo que lhe fora imposto, contra todas as vontades que não eram dela.


pesquisa de imagens: Suanne Oliveira

2 comentários:

  1. Olá camaleão,quanto tempo não!
    Você sabe que eu aprecio seus textos e esse não é diferente mais uma vez você mostrou o quanto você pode ir mais longe!
    Pois é contrariar a gravidade,ir contra tudo, conseitos,mesmice ...é totalmente contraditório as nossas vidas...rsrsrsrsrs
    Mas com certeza contrariar a densidade terrestre é uma das minhas maiores vontades. Mais uma vez parabéns por textos tão intensos e que fazer prender à quem o lê!
    Um beijo pra você e espero por mais postagens suas.

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