sábado, 16 de maio de 2015

Sobre ir Sozinho - 2° parte

 No meio das montanhas, entre ladeiras, ruas estreitas e igrejas, muitas igrejas, eis que avistamos a cidade de Ouro Preto. Se no Rio víamos o Cristo pela janela do hostel, agora víamos a lua, envolta por uma atmosfera sombria e romântica, em uma cidade cheia de história, ouro e sangue.

Ouro Preto - MG.
Na segunda manhã em Ouro Preto fomos abordados por Dim, o guia turístico, ele se ofereceu para nos acompanhar pela cidade e depois pelas cachoeiras mais próximas. De todos os professores de História que tive, no colégio e faculdade, Dim foi sem dúvida o melhor, falava da historia do Brasil cheio de certeza, politizado e rico em detalhes. Foi ele quem nos levou a conhecer uma mina de ouro desativada, ali na cidade mesmo. O lugar é aberto ao público e o combo inclui guia e uma aula sobre escravidão de perturbar qualquer ser humano. O passeio em si é macabro logo de inicio, a mina, claro, é estreita, fria e escura, muito escura, a sensação que tive era que tudo podia desmoronar a qualquer momento. Conforme íamos adentrando o lugar, nosso guia, que desta vez não era o Dim, ia nos contando a história da mina e como as atividades se davam lá dentro, a magia, imaginem só, se dava pela forma, poética e novelesca que o guia narrava os acontecimentos, no tom de voz, riscando as paredes, evidenciando o rosto na luz da lanterna. Foi fantástico e aterrorizante.

Mina de Ouro desativada.
Uma coisa é ler que negros eram forçados a trabalhar mais de dezoito horas dentro de uma mina de ouro a dezenas de metros abaixo da terra, outra coisa é entrar num lugar desses e descobrir que muitos deles ficavam cegos devido o constante contanto dos olhos com as lascas de pedra provindas da escavação. Saber também que muitos outros passavam a noite dentro da mina como forma de castigo por desobediência e que outros tantos ficaram surdos pela exposição ao atrito das picaretas com a pedra da caverna. Uma autêntica aula de história in loco. Ainda em Ouro Preto, e com a supervisão do super guia Dim, fomos no dia seguinte conhecer a cachoeira, andamos por cerca de trinta minutos por uma trilha estreita até chegar na base do parque municipal Cachoeira das Andorinhas, que a abriga a cachoeira de mesmo nome. Seguindo a frente encontramos algumas formações rochosas e sob nossos pés uma caverna por onde a água entrava formando uma pequena queda, e eis aqui o meu desafio.

A caverna e os corajosos.
 Entramos na caverna de onde pude ver mais de perto a pequena queda d'água que ficava ainda alguns metros a baixo de onde estávamos, ali perto havia uma acesso  improvisado em forma de escada que levava diretamente a queda d'água, Dim nos convidou a descer, disse que era seguro. Eu me recusei a princípio, imaginei mil criaturas lá embaixo: tubarões, sereias, anacondas e aranhas gigantes, diferente de minha amiga, que foi logo descendo. Mas eu mudei de ideia depois que o Dim falou que eu ia me arrepender muito se não descesse. O que eu fiz? Desci!

E foi incrível. Andar  descalço sobre as pedras e com a água doce e gelada uma pouco abaixo do joelho. Eu nunca havia entrando em uma caverna no meio do nada com uma cachoeira dentro. Experiências, sensações, histórias. Precisamos disso.
Ouro Preto rendeu muitas histórias; de escravos, de guerras, de sangue e injustiça. Mas também histórias de amor que nomearam lugares, como a "ponte dos suspiros", marco do romance entre Tomás Antônio Gonzaga e Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, mais conhecidos como Dirceu e Marília. Ainda de acordo com a história, após Dirceu deixar o Brasil rumo ao exílio em Moçambique, Dorotéia chorou por tanto tempo que até o chafariz em frente sua casa secouEncerramos nossa estadia na cidade sentados no mirante da UFOP, lá de cima podíamos ver largamente a cadeia de montanhas que formam uma espécie de muralha ao redor de Ouro Preto, a cidade parecia se esconder por entre os morros e colinas.

No mirante da UFOP, último dia em Ouro Preto.
Após voltar de Minas Gerais, passei mais de um ano sem fazer uma viagem longa, mas isso mudou no ultimo dezoito de abril, aproveitei o feriado prolongado de Tiradentes e cai na estrada outra vez. O ponto de partida foi a rodoviária do tiete, dessa vez a grana estava mais curta então tive que ir de ônibus.

O destino? Primeira parada Curitiba, era vez de conhecer o sul do Brasil.O ônibus saiu por volta da meia noite, optei por viajar na madrugada para economizar com hospedagem e seis horas depois lá estava eu contemplando as primeiras curvas da capital do Paraná.

Muito ouvi li e ouvi sobre Curitiba, e percebi que nada foi em demasia, a cidade é de fato uma jóia, exemplo de beleza, bem estar e boa gestão do espaço público. Calçadas largas, com canteiros de grama por toda a parte, prédios históricos sem cercas para delimitar território, em Curitiba o sentimento que se tem é de liberdade. Diferente de São Paulo, não encontramos tantos portões, grades e muros altos, a cidade flui e o horizonte é livre. Mas fazer comparações aqui é tolice, Curitiba e São Paulo são extremos populacionais. Com quase 12 milhões de habitantes São Paulo tem 1.523 km² de extensão territorial. Curitiba por sua vez tem pouco menos de 2 milhões de habitantes e 435,036km² (dados oficiais do IBGE).
O museu Niemeyer.
 Para conhecer a cidade, segui a dica de um amigo e utilizei o transporte exclusivo para turismo, uma linha de ônibus cujo o percurso são os principais pontos turística da cidade.

Meu momento preferido foi quando o ônibus em que eu estava e que possuía terraço panorâmico, entrou em uma avenida e fui surpreendido pelo museu Oscar Niemeyer, foi profundo aquele primeiro contato com o olho gigante, por um momento me vi petrificado, admirando as curvas, o espelho d'água e o infinito branco, traços marcantes e inconfundíveis.
Fiquei apenas um dia na cidade, o que contribui para que minha percepção da realidade curitibana seja um tanto difusa e rala. Não que tenha me passado pela cabeça que ao Sul do Brasil tudo é lindo, a pobreza inexiste e todas as ruas são limpas e arborizadas. Pontualmente as dez horas da noite embarquei rumo a minha próxima parada.

Parque Tanguá.

Ainda no Paraná, só que agora no limite da fronteira, eu estava a caminho de Foz do Iguaçu, era chegada a hora de conhecer duas gigantes brasileiras, ou meio brasileiras...

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